por: Stéfano Carnevalli
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025, COP 30 em Dados: eixos e temas centrais, sediada em Belém, coloca o Brasil no epicentro de uma disputa global por Justiça Climática. Mais que diplomacia, este é o momento em que as ações precisam transformar a equidade em compromisso concreto.
Esse breve texto, “COP30 em Dados: Brasil no Centro da Justiça Climática Global”, aproveito parte da pesquisa que realizamos nesses meses, onde realizamos alguns trabalhos de Data Storytelling para atender demandas de clientes relacionadas ao tema.
De Belém, emerge uma demanda unificada e orientada por dados. Os quatro eixos da COP30 se entrelaçam, indicando as ações globais cruciais que não podem mais ser adiadas:
- Justiça Climática e Equidade Global
- Transição Energética e Tecnologias de Baixa Emissão
- Financiamento Climático
- Florestas, Biodiversidade e Natureza como Solução Climática
Em 2025, com o planeta aquecido mais de 1,3ºC desde a era pré-industrial, a crise climática não espera. Com isso a questão central da COP30 vai além da persuasão: trata-se de enfrentar os números da injustiça e assumir responsabilidade global pelo presente e pelo futuro. Um fato inegável é que 13 em cada 100 brasileiros foram afetados por desastres climáticos em 2022, conduzindo a pauta da conferência para uma emergência de Direitos Humanos.

Fonte: "Data Viz Magic V.01", (Carnevalli & Carnevalli, 2025)A Judicialização da Justiça Climática
A sociedade brasileira lidera uma tendência mundial: transformar a crise ambiental em pauta jurídica. A pressão legal vinda do Sul Global é hoje uma das maiores forças para redefinir a pauta internacional da COP30. São 131 litígios climáticos no Brasil, tornando o país o 4º do mundo em volume desses processos. Indígenas e quilombolas seguem como as populações mais vulneráveis, evidenciando o ponto de virada: a Justiça Climática está sendo cobrada na lei.
Os debates em Belém atingem o ápice nas negociações sobre financiamento climático. A mobilização de recursos é a métrica real da equidade. O “Roteiro de Baku a Belém” estabelece uma meta inédita de US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 para apoiar países em desenvolvimento, um valor que pretende refletir o custo real da justiça climática global.
Contudo, a distância entre discurso e prática é visível no investimento doméstico, sendo que apenas 1% do investimento do Brasil foi destinado às florestas em 2023, expondo a urgência de financiamento para a proteção dos ecossistemas e das populações que conservam a biodiversidade.
Soluções Brasileiras à Frente
O Brasil demonstra potencial e resultados, apresentando sua matriz energética e seu vasto capital natural como provas de que a solução é viável e replicável. A COP30 precisa transformar essa liderança ambiental em ação global, com reconhecimento internacional e financiamento justo.
| Solução (Dados) | Implicação |
| 88% da eletricidade é limpa | Prova que a Transição Energética é uma realidade. |
| 60% do país é coberto por florestas | Maior ativo global para mitigação e biodiversidade. |
| Projeção de 28,5 GW de energia eólica até 2026 | Demonstra o caminho da aceleração renovável. |

Metas de Financiamento e Redução de Emissões
O legado da COP30 deve ser a inauguração de um ciclo pautado pela ação compartilhada e financiamento massivo, em que justiça climática se traduz em investimento robusto para adaptação, proteção da natureza e inclusão social. O compromisso não pode ser só político, precisa ser jurídico, econômico e ético. Onde podemos indicar algumas ações orientadas a dados, como:
- O financiamento climático precisa atingir US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 para garantir a transição justa e a adaptação climática, especialmente para países em desenvolvimento.
- O Acordo de Paris estabelece que os países desenvolvidos devem investir US$ 100 bilhões anuais em países em desenvolvimento para mitigação e adaptação climática, com revisão e aumento das metas a cada cinco anos.
- Para limitar o aquecimento global a 1,5 °C, as emissões globais precisam ser reduzidas em 43% até 2030, 60% até 2035 e atingir o zero líquido até 2050.

Ações de Litigância Climática
- O Brasil deve fortalecer a litigância estratégica para garantir a implementação de políticas públicas, como o controle de desmatamento, regulamentação de planos de desmatamento e reflorestamento, e a consideração de riscos climáticos em licenciamentos ambientais.
- O crescimento de ações judiciais climáticas deve ser acompanhado por indicadores de sucesso: cerca de 63% das decisões do STF já são favoráveis aos reclamantes, e o número de casos deve aumentar para garantir a responsabilização de empresas e governos.
Soluções Baseadas na Natureza e Inclusão Social
- Soluções baseadas na natureza (SbN) podem reduzir as emissões líquidas em até 18 gigatoneladas de CO₂ por ano até 2050, representando uma proporção significativa da mitigação total necessária.
- O Brasil deve priorizar a proteção, gestão e restauração de ecossistemas, especialmente florestas, que representam cerca de dois terços do potencial de mitigação climática.
- O financiamento deve ser direcionado para projetos que envolvam povos tradicionais, garantindo consentimento livre, prévio e informado, além de benefícios sociais e ambientais.
Indicadores e Ações para os Próximos 50 Anos
- Monitorar o Novo Objetivo Coletivo Quantificado (NCQG) e garantir que o financiamento climático atenda às necessidades de mitigação, adaptação e perdas e danos dos países em desenvolvimento.
- Fortalecer a litigância climática para garantir a implementação de políticas públicas e a responsabilização de empresas e governos, com foco em desmatamento, reflorestamento e planejamento urbano.
- Direcionar recursos para soluções baseadas na natureza, com metas claras de redução de emissões e restauração de ecossistemas, envolvendo povos tradicionais e comunidades locais.
Esses dados e orientações reforçam o compromisso com a justiça climática, mostrando metas claras, indicadores de progresso e ações estratégicas para os próximos 50 anos, alinhados ao legado da COP30.
Stéfano Carnevalli atua como Data Storyteller e CDAO do grupo Data Bio Tec. Conheça mais sobre os treinamentos e conteúdos, acesse: Data Storytelling – contando e planejando história dos dados
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